domingo, 26 de setembro de 2010

João Ferreira | Teimosias XI | Escultura | Museu Abade de Baçal

A exposição “Teimosias XI” reúne trabalhos executados ao longo de onze anos, (1999 até 2010), e uma instalação pensada especificamente para o espaço do Museu Abade de Baçal.
É evidente a dominância dos materiais autóctones nas madeiras escolhidas, com predomínio da Nogueira, Castanho e Olmo. Este aspecto caracteriza a obra plástica de João Ferreira e é intensificado ao longo de todo o processo criativo, que se inicia na escolha da árvore, no posterior corte e secagem da peça de madeira, finalmente no talhe directo do objecto, retomando assim uma concepção quase mítica da prática artística. Nesta atitude persiste o eco das linguagens criativas com que o autor se foi cruzando, desde o forte carácter transmontano, à experiência nas Ilhas Bijagós com mestres de escultura ritual animista. No entanto, persiste também a construção de uma linguagem própria com obras que nos confrontam com figurações animais, femininas e criaturas estranhas, perturbadoras composições que registam a “teimosia” do autor nos materiais fortes e na linguagem intensamente plástica. A madeira, sempre em peça única, domina e intervém como elemento estruturante do objecto escultórico final. É a madeira que amacia, que conforta os metais corrompidos, assumindo a voluptuosidade do corpo vivo, a palpitação biomórfica que as obras nos evocam. Os metais usados são materiais desprezados, velhos, frutos da sociedade de consumo rápido e sôfrego. São partes outrora integradas em máquinas agrícolas que por serem obsoletas desarticulam-se em abandono, reflectindo o afastamento observável em todo Trás-os-Montes, que o autor “teima” em questionar.

(Fotografia - cortesia de Manuel Teles)
Integralmente em metais está construída a instalação de térmitas - “Redutoras de Memórias” feita especificamente para o espaço do Museu Abade de Baçal, representa uma praga, um conjunto de térmitas que emergem de uma tela exposta na parede e se dirigem implacavelmente para o interior do espaço de exposição permanente do museu. A ironia das térmitas reside no facto de que estas constituem uma das mais temíveis pragas para os museus atentando contra a estabilidade física das peças que estes têm à sua guarda. Como espaços de memória os museus têm também a função de preservar os objectos, assumindo essa realidade o autor confronta-nos com a memória intangível que estes transportam, muito mais frágil e perecível que as madeiras, e irremediavelmente transformada no momento em que o objecto entra no museu.

Para ver até ao final de Setembro! Imperdível!

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