SANTA MORTE
Reflexos viáticos da irrepetibilidade dos Passos
Colectiva de
Miguel Moreira e SilvaDesde o gesto de deposição de ocre sobre os corpos dos mortos no paleolítico até às esculturas fúnebres dos cemitérios oitocentistas a prática artística parece ter estado sempre próxima do grande mistério – A Morte.
No entanto,
contemporaneamente, a pressão do tabu é inevitável, constrangem as ideias metafísicas
que o envolvem e o âmbito de estudo científico, demográfico, filosófico ou literário
apesar de paliativo na desmontagem metodológica do medo, separa abissalmente a
Morte do cidadão comum e da linguagem do quotidiano. Para melhor entender a
narrativa criada na presente mostra colectiva, encontramos amparo nas palavras
de Philippe Ariès: A atitude antiga, em
que a morte é simultaneamente familiar, próxima e atenuada, indiferente,
opõe-se muito à nossa, em que a morte provoca medo, a ponto de nem ousarmos
dizer-lhe o nome (…) Uma nova forma de pudor exige que se oculte o que outrora
era necessário expor ou mesmo simular: o desgosto (…) A morte deixou de ser o
lugar da tomada de consciência do indivíduo e hoje não é mais do que o inverso
do que é visto, conhecido, falado…
A presente exposição
regista o próximo e o diferente numa perspectiva colectiva que se pretende
propiciadora à fraterna comunhão da nossa condição de mortais de irrepetíveis passos.
Não se pretende fomentar o simples prazer da transgressão explorando um tema
tabu mas sim comunicar inquietações comuns. Eventualmente, não fugindo aos
paradigmas contemporâneos, poder-se-á suscitar, ou melhor, partilhar a dúvida.
Os autores
representados, João Ferreira-Janjã, Manuel Teles e Miguel Moreira e
Silva, não só partilham o
mesmo tempo mas também o espaço – interior transmontano. O contexto de fraca
densidade populacional, abandono, e envelhecimento é inquestionavelmente
revelador da original transversalidade do tema que emerge espontâneo nas
diferentes práticas artísticas dos autores agora reunidos nesta exposição.
Emília Nogueiro
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