A estrutura das cordas de um piano de cauda destruído e abandonado foi o elemento que convocou João Ferreira a começar a obra. De tudo fica um pouco. Agora colocada na vertical a estrutura de cordas do piano é o corpo de uma Menina. A obra evoca as icónicas Meninas da corte que Velásquez pintou em 1656. Infantas refinadas e educadas, representadas no interior doméstico, em espaço privado. A Menina Música do João Ferreira, feita de restos, está contente de assumir a sua presença no espaço público. Aqui ela celebra a Arte com todos nós!
Pensada para estar junto ao Conservatório de Música de Bragança, a Menina oferece um abrigo dentro do cavername que segura as suas saias. Como as saias da Mãe, a Música, enquanto expressão universal da Arte, conforta das agruras do Mundo. Assim pensou o autor ao permitir o uso do espaço interior da escultura. Entrar de baixo das saias da Menina Música é uma viagem dentro de um cavername de refúgio em terras de sequeiro.
Na reutilização de objetos, João Ferreira aprofunda a insistência da fundação da prática artística nas memórias. Na evocação dos que antes de nós criaram, o autor participa da longa tradição dos que usam as mãos para fazer coisas. Mas, se na matéria a escultura se funda nas memórias, na forma representa uma jovem Menina. A Menina Música renova a Esperança e a Fé no futuro e convida-nos à sua fruição imersiva.
Texto de Emília Nogueiro

Pormenor do cavername que segura as suas saias da Menina
Interior da Menina
Pormenor da saia
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