A quarta crónica desta residência
é dedicada aos artistas japoneses que nos recebem em Ohtawara. A deferência que
me merecem atrasa a escritura deste relato pois temo não ser suficientemente
agradecida nas palavras que lhes dedico. A cultura a que nos permitem aceder
ultrapassa largamente os lugares comuns que trazía no meu imaginário. Definitivamente,
creio, que deveríamos (nós, Homo sapiens)
começar a nossa educação aqui, rodeados pela cultura nipónica. Há algo nesta
refinada delicadeza e no polimento das relações sociais que me parece
propiciador ao bom entendimento entre todos e que mereceria ser reproduzido além-fronteiras.
Kodai Hihara é simultaneamente o
mentor do projeto da residência artística e escultor. Eu, como todos os outros “residentes”,
declaro o respeito, a admiração, e um imenso agradecimento para Kodai San.
O atelier do Kodai é um intenso
espaço de criação, cheio de esculturas em curso, máquinas e ferramentas. Fora
deste “santuário” destaca-se a possante escultura de um porco que nos recebe à
entrada do Institute of Art and Cultural Studies. De madeira e metais, a
alimária perscruta o visitante com uma expressão divertida nos olhos, contrariando
a imponente e máscula volumetria do corpo.
A Tamami (Ichimura) modela o
barro e mistura-o com a madeira que esculpe. Desde que chegamos já pudemos
acompanhar a sua pratica pedagógica aplicada a um diligente aluno que em pouco
tempo lavrou o seu autorretrato. Na sua mesa de trabalho acumulam-se utensílios
de cerâmica, detalhes de bichos diversos e as obras em curso, uma ave dodô e
uma cabeça de chacal. Também moldadas pelas mãos de Tamami convivem no amplo
espaço central do Institute diversos animais: um par de focas, ternos e roliços
exemplares que placidamente parecem aqui ter encalhado; um quadrúpede e um
porco selvagem.
A Mio (Warashina) é pintora, mas
também gravadora e com formação em artes do metal. Conhecedora de técnicas distintas
de produção de imagens, foi solícita a partilhá-las com os brasileiros e
portugueses no atelier de gravura que agora ocupam. Mas, neste momento é na
pintura de misteriosas silhuetas que percebemos a dedicação da sua prática artística.
As formas biomórficas que pinta formam figuras que parecem contidas em veios de
madeira. Diligente, dona de uma doçura comovedora, e como todos os companheiros
japoneses, a Mio é disponível e atenta na boa integração dos colegas
luso-brasileiros.
Desde que iniciamos a residência que
o Tetsuya (Tokuda) já terminou uma escultura. Fomos assistir à inauguração de
uma exposição coletiva onde a expõe, (junto a obras de Kodai e Tamami) e, desde
então, iniciou novo trabalho escultórico. Em madeira, com detalhes em metal, e
em cerâmica, é à figuração feminina que dedica a maioria dos trabalhos. As
obras escultóricas de Tetsuya que pudemos contemplar são delicados tratados de anatomia
feminina. A preferência pelas linhas suaves de rostos de frágil e pueril compleição
definem um feminino feérico, patinado em tons claros.
O Kizuku (Takahashi) é estudante de escultura na
universidade de Fukushima. A mestria com que desbastou o tronco de Ginko Biloba
denota a´sua continuada e dedicada prática manual. Traz, da loja da
universidade, o seu estojo com as goivas e os formões bem afiados. Mostra no
atual trabalho a preferência pela figuração de animais, aspeto recorrente na
prática contemporânea dos artistas que circularam pelo Institute of Art and
Cultural Studies. Trabalha a madeira de Ginko, e não o Kusonoki, madeira mais
suave que normalmente trabalha, mesmo assim, a águia japonesa que esculpe já
quase voa.
Kodai Hihara no seu atelier
Tamami Ichimura a ensinar modelagem
Mio Warashina no seu atelier
Tetsuya Tokuda (fotografia cortesia de Luiz Carvalho)
Kizuku Takahashi
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